quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Senhor das máscaras, do êxtase e da vida eterna


A princípio achei que falar de Dionísio fosse fácil... Mas estava totalmente equivocada!
Não vou explicar aqui que Dionísio é a criança da promessa, o filho do poderoso Zeus com a mortal Sêmele, que é aquele que renasceu duas vezes, criou o vinho e como único deus filho de uma mortal, garantiu seu lugar no Olimpo... Porque isto todo mundo já sabe. Então vou falar da minha experiência dionisíaca!
Dionísio não se expressa pela razão da mente, do ego, ou até mesmo da consciência...  Descobri que não tem como falar dele, sem se deixar envolver por sua dança! Ele é o deus mais complexo que já estudei! (e não digo isso por ser meu pai) É a figura do estrangeiro, aquele que não pertence a ninguém, nem a lugar nenhum... Ele tem grande poder sobre a terra, através do vinho, da embriaguez pelo álcool e da consciência, ou melhor, da inconsciência... É o senhor do caos, da perda de controle... E ao mesmo tempo, do êxtase divino, que nos leva à conexão com o Uno.
Ao entrar em seu mundo, ele nos leva ao narcisismo, à um mergulho desesperador em nosso “eu”... Como num espelho negro... Levando isso à um conflito, uma confusão de identidade em uma busca frenética por uma resposta, um abandono e um encontro doloroso com os erros cometidos... Ele faz isso com sedução, com sutileza... Sem nossa autorização... Quando nos damos conta, estamos experimentando a loucura, o desejo, o prazer... Sem o menor pudor... E nos livramos de qualquer máscara que possa existir em nossa face!
Em Elêusis, ele era cultuado como "Iaccos", a criança da promessa, aquele que faz a ligação entre morte/renascimento e conduz todos aqueles que foram iniciados em seus mistérios à vida eterna.
Sempre via Dionísio e Apolo como deuses muito parecidos... Mas na realidade eles são antíteses! Enquanto Apolo é a vida, a luz, o esclarecimento, a perfeição, a retidão... Dionísio é o vazio, a inconsciência, a loucura, a morte... Um é a medida e o outro, a desmedida!
E o mais curioso é que eles são opostos que se complementam, pois precisamos destas duas faces para manter o equilíbrio.

Seus símbolos: As uvas, taças, chifres
Seus animais: Bodes, coelhos, touros e pássaros corvídeos
Cor: Vermelho e Roxo

Arquétipo de Dionísio:

Aquele que tem como pai Dionísio, é apreciador dos prazeres da vida, da arte, da poesia, da beleza, do sexo, da boa e farta mesa e claro, do vinho. Sinto necessidade de frisar que não é o simples “encher a cara”, ou “transar muuuito”, as pessoas deliciam-se com o prazer; experimentam todas as sensações e sabores que este prazer lhes proporciona... O arquétipo de Dionísio nos passa em primeira impressão uma pessoa do tipo “livin' la vida loca”, mas não é assim... É uma pessoa que explora todas as possibilidades, vive cada dia de mente, corpo e coração aberto. Uma pessoa que gosta de refletir sobre os mistérios da existência, que questiona, que discute... Livre de dogmas e preconceitos, com espírito aventureiro, que não tem medo de “pagar para ver”.
Vejo homens e mulheres alegres, de bem com a vida... Que dificilmente ficam tristonhos ou abatidos. Lutam por suas verdades, apaixonam-se com facilidade e entregam-se com mais facilidade ainda.

As Bacantes

As bacantes formavam o corpo de seguidoras de Dionísio, deslocando-se para onde ele fosse. Vestidas com roupas de linho, tendo sobre os ombros peles de corças pintalgadas e a cintura cingida por uma serpente, traziam sempre junto de si o tirso - insígnia das adoradoras de Baco. Tratava-se de um cajado com uma haste ornada com hera coberta com folhas de parra e cachos de uvas, que, além de as auxiliar nas caminhadas, era possuidor de recursos mágicos. Elas, acompanhadas ainda por sátiros e faunos, embalados pelos sons dos tamborins dos coribantes, formavam uma espécie de trupe que acompanhava o deus do vinho nas suas aventuras, atuando igualmente como chamariz na conversão de outras mulheres por onde a procissão passava, atraindo-as para a vida lasciva. Evidentemente que o comportamento livre e desregrado delas causava apreensão, senão pânico, nos lugarejos e cidades onde o cortejo báquico passava. Eram mulheres possuídas, como se estivessem dopadas, em transe permanente, que, quando assaltadas por um furor qualquer, não conheciam limites ao descarregar a sua cólera. Por isso mesmo, obrigavam-se a procurar refúgio no alto das montanhas, onde podiam exercer sua estranha liturgia sem a presença de olhares de censura ou reprovação.
Em pleno século XXI, temos uma relação ambígua com o prazer. Hoje vivemos em uma época onde a liberação sexual existe e por conseguinte, o prazer é permitido também para as mulheres, porém, ele ainda permanece associado ao corpo, pois o divino não pode se manifestar nele. 
Viemos de uma cultura patriarcal em que tudo o que provém do corpo é errado, sujo, pesado, pecaminoso e por estes motivos deveria ser refreado. E diferente disto, tudo o que provém do espírito é puro e divino. Na cultura patriarcal, corpo e espírito são coisas distintas; o sexo e a sexualidade portanto são coisas da carne. Durante séculos, a mulher que permitia-se sentir o prazer, independente se através do ato sexual, bebida, dança, canto, era definida por somente uma palavra: puta.
Por isso, justamente por isso que os cultos a Dionísio nos escapam da compreensão! Como seria possível cultos tão milenares unirem corpo e espírito? Cultos estes que levavam seus praticantes a transcendência através do êxtase e da inconsciência?
Da mesma forma que a mulher que "permitia-se" era (será que "era?") tachada por somente uma palavra, eu explico como isto é possível com somente uma palavra: "vivencie"
Somente após esta vivência, será possível unir corpo e espírito de forma perene, pois assim o são e é assim que devem continuar a ser!


Entrando na dança de Dionísio:

Você precisará de

  • 1 taça de vinho
  • Morangos
  • Leite condensado
  • Uvas
  • Uma venda para os olhos
  • Uma música que considere sensual de fundo


Separe as frutas num prato, o leite ocndensado e o vinho. Coloque a música para tocar, sente-se confortavelmente, vende os olhos e comece uma exploração ao prazer através do paladar...
Prove os morangos... Primeiro cheire-os, sinta seu perfume, encoste-os nos lábios e aprecie sua textura... Encoste na língua e somente depois, entregue-se ao prazer de mordê-los. Sinta o gosto, a textura, o suculento e doce sabor... Depois lambuze-os com o leite condensado e sinta a novidade ao paladar... Repita o mesmo processo com as uvas, note a diferença na textura, no sabor e somente por fim, beba o vinho. Sempre da mesma forma, cheiro, textura, paladar... Peça à Dionísio que o embale em sua dança e te embriague os sentidos... Leve seu espírito à dançar (se sentir vontade, levante-se e dançe com sua matéria também). Desfrute cada momento deste encontro com o prazer, agradeça ao deus... E seja bem vindo de volta!


Desejo-lhes o êxtase dionisíaco, luxúria e muito, mas muito prazer!


E sigo deslizando...